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Psychological safety e racismo nas empresas: mudar a partir de quem sente

Atualizado: 14 de mar.

Por Juliana Kaiser

O profissional negro já sofre desde o processo seletivo, quando tem medo de ter sua aparência questionada. Depois, se aprovado para a vaga, precisa se impor para conseguir transpor a portaria do edifício. Se ocupar um cargo de liderança, vai ter que se esforçar bem mais que seu colega branco para ter sua capacidade reconhecida, enquanto continua enfrentando situações em que é confundido com a pessoa que limpa os banheiros. Diante dessa realidade vergonhosa, é ainda mais urgente falar de psychological safety, conceito que tem estado com mais frequência nas redes não por ser mais um modismo, mas, na minha opinião, porque os casos de assédios, de burnouts e discriminações várias têm vindo mais à tona e representado uma ameaça à reputação das empresas e, claro, aos seus lucros. Bom, divido com vocês um questionamento pessoal principal quando reflito sobre a relação entre psychological safety e racismo no ambiente corporativo. Como as empresas podem criar ambientes com segurança psicólogica para seus colaboradores negros (esse é nosso foco aqui), se a maioria dos líderes e gestores em posições estratégicas, como no departamento de Recursos Humanos, é branca? Para falar sobre a necessidade de pessoas negras pensarem políticas de psychological safety para pessoas negras nas empresas, vou recorrer à brilhante escritora Conceição Evaristo, que recentemente esteve no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro para um bate-papo com leitores. Para falar da experiência do corpo negro, Conceição, por sua vez, recorreu à Nadine Gordimer, primeira escritora africana a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura. Nadine e sua família eram brancas e sofreram muitas perseguições na África do Sul por lutarem contra o apartheid. Conceição conta que no livro O gesto essencial, Nadine diz: “Por mais que a pessoa branca queira se cumpliciar com uma pessoa negra, há, no nível da subjetividade, uma experiência que o corpo branco não vive. Se uma pessoa branca sai com uma pessoa negra para um espaço e essa pessoa negra é interditada, o branco pode chamar a polícia, denunciar, sofrer intensamente com aquela situação, mas há um momento da experiência que o corpo branco não vive, porque ela é intransferível. A experiência que o corpo negro sofre ao ser barrado pode ser entendida pelo branco de maneira racional e até de maneira emocional. É como se tivesse sido com ele, mas não é ele, não é. Nenhuma pessoa branca aqui foi atravessada por um olhar racista. Nenhuma”. Não precisamos falar mais nada depois de ouvir/ler isso. Reflitamos. .


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