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Por que mulheres negras não são convidadas para falar de gênero?

Atualizado: há 2 dias



Por Juliana Kaiser – Especialista em ESG e Diversidade | Fundadora da Trilhas de Impacto


As questões referentes ao gênero vêm sendo cada vez mais proliferadas, e por razões variadas. Os debates têm se aflorado. Mas, mesmo assim, ainda é possível perceber que existem lacunas quando o assunto é a representatividade das vozes de mulheres negras em discussões sobre gênero e raça. 


Não raro, figuras femininas de relevância têm suas experiências e opiniões ignoradas ou postas em segundo plano, pois os recortes em espaços que as incluem desconsideram suas contribuições para o coletivo no que diz respeito ao gênero. 


Para além de injusta, essa segregação limita o acesso à informação sobre a realidade social e de políticas que afetam mulheres negras, que podem contribuir, na prática, com a transformação da realidade. Nos espaços acadêmicos, midiáticos ou políticos, somos vistas, em muitos casos, como pessoas que não merecem ocupar tais lugares, onde são mantidos brancos privilegiados, que ignoram as vozes de quem não ocupa os mesmos postos.


Às negras, resta o papel de especialistas em questões raciais, enquanto suas contribuições para o discurso sobre gênero são minimizadas ou desconsideradas.


Outro fator que contribui para essa divisão é uma percepção estereotipada das mulheres negras como agressivas, assertivas ou excessivamente vocais. Tais impressões podem levar a uma relutância em convidar mulheres negras para discutir gênero porque, na verdade, os interlocutores parecem ter medo de que elas abordem esses tópicos de uma maneira que desafie o status quo, confrontando diretamente o privilégio branco e masculino.


Como podemos, então, combater essa exclusão? Promovendo diálogos, trazendo uma consciência sobre a necessidade de ampliar as vozes, incluindo espaços para que a mulher negra fale também sobre gênero. Esse trabalho envolve não apenas convidar mulheres negras para participar dessas conversas, mas também garantir que suas perspectivas sejam valorizadas e respeitadas. Também é de grande relevância que as organizações feministas e antirracistas reconheçam e abordem as formas específicas de discriminação enfrentadas pelas mulheres negras, atuando de forma conjunta e solidária na busca pela promoção da justiça social e igualdade para todas as mulheres.


Vale pontuar que a exclusão das mulheres negras nos debates sobre gênero não apenas nega suas experiências e perspectivas únicas, ao enfraquecer o movimento feminista como um todo. É preciso aprender que para construir um movimento verdadeiramente inclusivo e interseccional, com bases sólidas e que respeitem todos os agentes envolvidos nessa temática, é imperativo que as vozes das mulheres negras sejam ouvidas e valorizadas nas diversas áreas de fala e ativismo.



 

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