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Pesquisa inédita: Inclusão racial é praticamente inexistente nas empresas brasileiras

Atualizado: 14 de mar.

Quase 80% das mulheres negras ouvidas pela Trilhas de Impacto relataram atos discriminatórios no ambiente laboral


O número de universitários negros em universidades consideradas de “primeira linha” subiu vertiginosamente, inclusive nos cursos “de elite” como Direito, Economia e Engenharia. Por outro lado, não se vê esse cenário nas empresas, onde a grande maioria ainda é branca, e muito menos nos cargos de liderança. De acordo com o IBGE apenas 3,5% dos líderes nas 500 maiores empresas no Brasil são negros. Nos grandes programas de diversidade, cerca de 30 ou 40% do talentos negros acabam se demitindo em menos de seis meses, uma vez que os ambientes não são inclusivos para pessoas negras. Entre muitas iniciativas necessárias, faltam ações para conscientizar funcionários sobre a desigualdade social, por exemplo.

A realidade das pessoas negras, especialmente das mulheres pretas e pardas no mercado de trabalho, foi o motor da pesquisa inédita “Mulheres negras no mercado de trabalho”, idealizada pela CEO da consultoria Trilhas de Impacto, Juliana Kaiser, e realizada por meio da rede social LinkedIn Juliana é uma mulher negra, educadora, gestora de projetos, professora no Instituto de Economia da UFRJ e no IAGPuc Rio, palestrante de ESG e da igualdade racial no mundo corporativo e Conselheira da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-RJ). Mais de 50% das 155 mulheres negras que responderam ao questionário sofreram preconceito de gênero e/ou raça. Quando indagadas sobre discriminação no mercado de trabalho, o percentual apresentado foi maior: quase 80% (78%) das mulheres ouvidas relataram perceber atos discriminatórios em seu ambiente laboral.

“Durante a pesquisa, a CEO observou que alguns aspectos se repetiam nos relatos e decidiu categorizá-los para melhor compreensão dos resultados qualitativos. De acordo com as entrevistadas, dividiu os estereótipos raciais apontados nos seguintes temas: Cabelo, Recrutamento/seleção, Faxineira/empregada, Pele, Silenciamento/credibilidade e Salário/promoções. Com relação ao tema “Cabelo”, por exemplo, Juliana diz que ele atravessa a vida de qualquer mulher negra no Brasil: “Quantas vezes pensamos dez vezes antes de ir a uma entrevista de emprego com um turbante ou com o cabelo black, já que não sabemos se quem está do outro lado é uma pessoa racista? Após mais de 20 anos fazendo análise, percebo o quanto de energia perdemos nesse processo de se manter saudável, apesar de toda a opressão que o racismo provoca. E essa pesquisa só vem reforçar que isso não é um fenômeno individual”.

Em se tratando do quesito “Recrutamento/seleção”, a CEO afirma que os relatos das entrevistadas reforçam a necessidade de que pessoas negras precisam sempre estar preparadas para, numa entrevista, uma situação de exclusão e racismo seja disfarçada de falta de qualificação. É no processo de atração que a pesquisa apresentou os maiores dados de discriminação e racismo. “Vamos depender do quão letrado sob o ponto de vista racial é o nosso interlocutor, e o quanto a empresa está interessada de fato em promover diversidade racial. O RH das empresas, ao promover processos de seleção, recrutamento, promoção, geralmente tem o consenso tácito de que os ocupantes dos cargos de destaque devem ser homens brancos. Nas entrelinhas, a cor da pele acaba sendo um fator de seleção, ou melhor, de segregação”, destaca.

Juliana conta que uma das categorias que mais a deixou perplexa foi a denominada “Faxineira /empregada”. Foram mais de dez relatos de mulheres hiperqualificadas e letradas confundidas com funcionárias operacionais. A entrevistada Ludmila disse: “sempre pediam para eu limpar as coisas”. Ela é administradora de empresas e foi contratada para ser supervisora de uma área. Outra respondente, Quézia, compartilhou que, durante uma entrevista de emprego para uma vaga de secretária sênior, foi indagada por uma funcionária da empresa se ela seria a nova faxineira. “Casos assim não são isolados. No prédio em que eu resido, na zona sul carioca, a poucos passos da praia, a única moradora negra que não é empregada doméstica sou eu. Não raro sou indagada sobre o motivo pelo qual acesso o elevador social, que atende somente dois apartamentos por andar. A pesquisa demonstra apenas o que todos nós presenciamos, todos os dias. A inclusão racial é praticamente inexistente nas empresas brasileiras e estereótipos de branquitude seguem fechando portas, especialmente, às mulheres negras e pardas”, alerta a gestora. PERFIS DAS ENTREVISTADAS As 155 respondentes do questionário têm entre 19 e 55 anos, sendo a média de idade prevalecente de 30 a 45 anos. Os espaços de atuação no mundo do trabalho são variados, destacando-se os setores de Educação, Recursos Humanos, TI/ Análise de Sistemas, Telemarketing, Relações Públicas, Administração e Comércio. Do total das participantes, 50,3% possuem Nível Superior e Pós-Graduação/Especialização; 13,5% Mestrado e Doutorado; e, 24,5% delas, o Ensino Superior Completo. No que se refere à atuação profissional, 83,9% estavam ocupadas no setor formal de trabalho quando responderam à pesquisa da Trilhas de Impacto “Mulheres negras no mercado de trabalho”.


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