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Mãe e negra no mercado de trabalho: é preciso estar atenta e forte

Atualizado: 14 de mar.

por Juliana Kaiser*


A mulher negra enfrenta em sua vida as desigualdades de raça e gênero. E, se ainda é mãe, sua condição no mercado de trabalho fica ainda mais delicada, em comparação às mulheres brancas. Temos boas pesquisas no país, várias divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE), que indicam esse imenso desequilíbrio e vulnerabilidade.


Aproveitando este mês de maio - em que se comemora o Dia das Mães e também a luta pela abolição da exclusão social, econômica e cultural das pessoas negras no Brasil -, convido voltarmos nosso olhar para essas mulheres, as mães pretas, que acumulam dois problemas sociais e cujo maternar pesa mais para elas, numa balança pra lá de injusta.



Eu me lembro da pesquisa “Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, divulgada em 2021 pelo IBGE. Os números indicaram obstáculos ainda maiores para inserção no mercado de trabalho em se tratando de mulheres pretas e pardas com filhos pequenos de até três anos de idade. O nível de ocupação nesse grupo é menor que 50% na média do país (49,7%). Entre mulheres brancas, o percentual ficou em 62,6%.


O raciocínio é simples. Se a maioria das pessoas pobres no país é de pretos e pardos (72,9%) x pessoas brancas (18,6%), de acordo com o estudo “Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil” (IBGE/2021), mulheres negras precisam contar com uma rede ampla de creches públicas para facilitar sua inserção no mercado de trabalho.


Acontece que entre as crianças de 0 a 3 anos cujas famílias estão no grupo dos 20% com renda domiciliar per capita mais baixa do país, quase 34% não contam com vagas em escolas ou creches perto de casa. Entre os 20% com renda mais alta, esse problema atinge apenas 6,9% das crianças na primeira infância, segundo dados de 2017 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad).



Corta!


Vamos mudar nosso cenário para uma pequena parcela de mulheres negras e mães com melhor poder aquisitivo no país, melhor formação e acesso a creches e escolas particulares, e avaliar se a desigualdade de raça e de gênero persiste (ainda há dúvida?)...



Na pesquisa “Mulheres negras no mercado de trabalho”, divulgada em março deste ano pela consultoria Trilhas de Impacto, 50,3% do total das participantes têm nível superior e pós-graduação/especialização; 13,5%, mestrado e doutorado; e 24,5% delas, o ensino superior completo. Mesmo assim, mais de 50% das 155 mulheres negras que responderam ao questionário sofreram preconceito de gênero e/ou raça. Quando indagadas sobre discriminação no mercado de trabalho, o percentual apresentado foi maior: quase 80% (78%) delas relataram perceber atos discriminatórios em seu ambiente laboral.


Imaginemos os reflexos de tudo isso no maternar… Posso afirmar que sei bem, infelizmente. Também sei que a transformação é lenta e requer muito trabalho, muita pesquisa, muito compartilhar, muita luta. Não dá pra descansar, minha gente. Caetano e Gil nos dão o tom desse caminho: “É preciso estar atenta e forte”.



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