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Juliana Kaiser

A insegurança alimentar que atinge pessoas negras

Atualizado: 8 de fev. de 2023

Por Juliana Kaiser

Em geral, aos domingos eu faço o meu "#quilombonolinkedin", onde divulgo vagas exclusivas para pessoas negras ou dou dicas de leitura. Hoje, eu fiquei impactada com uma matéria da BBC News, que me deixou nocauteada: eu não me conformo em viver num país onde haja esses níveis tão altos de insegurança alimentar.


A matéria relata o cotidiano de insegurança alimentar, nome técnico que usamos na #responsabilidadesocial para designar fome, que vem acometendo, segundo a matéria, estudantes universitários. Não por acaso, a personagem da matéria é uma mulher negra. Para quem me acompanha aqui, sabe que meu tema de estudo na universidade é monitorar indicadores de melhoria econômico-financeira de mulheres negras após a enxurrada de programas de #diversidade.


O que talvez mais me espante no artigo é que a estudante trabalha justamente num aplicativo de entrega de comida. É um universo tão surreal, trabalhar entregando comida sem ter o que comer, que me faltam palavras.


Ela, como outros milhares de jovens negros, conseguiram chegar à universidade. Mas, quando eu reforço que as condições de trabalho de pessoas negras, mesmo com qualificação, como é o caso da personagem, são absolutamente desiguais, preciso normalmente dar aula sobre letramento racial. Muita gente não consegue entender que o #racismoestrutural promove diferenças gigantescas na qualidade de vida de pessoas negras e brancas.


Como podemos inferir os mesmos critérios num processo seletivo em cenários tão distintos? A estudante da matéria, por exemplo, se for a uma entrevista de trabalho, chegará esgotada física e emocionalmente depois de pedalar quilômetros e ficar horas sem comer. A insegurança alimentar é tão cruel que é entendida na Responsabilidade Social como a incerteza de quando poderá ser realizada a próxima refeição.


Todos os anos, a cada novembro, mês da Consciência Negra, falamos muito aqui na rede sobre antirracismo, ações afirmativas, empoderamento negro, mas os números, esses ainda nos apontam dezenas de anos para que façamos uma reparação histórica de fato. Viver sob insegurança alimentar, especialmente com qualificação universitária, não pode ser normalizada.


Convido cada gestor de #rh a ler carinhosamente a matéria e pensarmos juntos como avançamos para um caminho para a #equidaderacial em espaços corporativos.


Como é que usamos os mesmos critérios de seleção diante de situações como essas? Para empresas que estão empenhadas na pauta #esg, será que essas relações de trabalho não precisariam ser revistas? Pedalar horas a fio sem garantias é realmente promover responsabilidade social? Adianta fazer programas de diversidade e não olhar para todos os seus stakeholders?

Será que conseguimos, juntos, virar esse jogo?


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